quarta-feira, 31 de julho de 2013

Afecções da canela em cavalos de corrida – Parte I

Afecções da canela em cavalos de corrida – 

Parte I

Introdução
O cavalo de corrida é comumente submetido a reações ósseas durante o exercício. As doenças que afetam as canelas atingem cerca de 70 a 80% dos cavalos no seu primeiro ano de treinamento e, principalmente, quando treinados em velocidades de prova.


Dentre estas afecções as mais comuns são a dores de canelas, que podem ser as periostites, inflamações do tecido ósseo periférico denominado periósteo; as fraturas por estresse e as exostoses, vulgo sobreossos.

O que é o tecido ósseo?
O tecido ósseo, apesar de ser um dos mais duros do corpo, é um tecido vivo e dinâmico. O osso é formado por células ósseas que secretam fibras de colágeno nas quais, subsequentemente, o cálcio será depositado.
A unidade funcional do osso é constituída de cilindros orientados longitudinalmente pelo interior dos quais passam vasos sangüíneos e um nervo. Esses cilindros são compostos por camadas concêntricas denominadas lamelas. Embora, de maneira geral, a forma e a estrutura da maioria dos ossos seja geneticamente pré-determinada, a massa, a estrutura tridimensional e as características micro estruturais podem mudar. As mudanças da mecânica ambiental podem ser transformadas em repostas biológicas pelo osso.

Figura 1: Ossos metacarpianos do cavalo, vista de frente (face dorsal). O osso principal é o terceiro metacarpiano.

Figura 2: Ossos metacarpianos do cavalo, vista de trás (face palmar)




Periostites (“Dor de canelas”)
São micro lesões que levam a uma reação inflamatória do córtex dorsal ósseo do osso terceiro metacarpiano com deposição óssea irregular nos locais afetados. O processo normal leva a um espessamento ósseo, e quando este processo adaptativo termina, o osso principal da canela se torna resistente a danos futuros.

Esta alteração ocorre apenas nos membros anteriores e pode ser diagnosticada em ambos os membros ou em apenas em um.

Causas
São causadas caracteristicamente por um aumento repentino na intensidade de trabalho e por excesso de exercícios de galope á velocidade de corrida durante o primeiro ano de treinamento. Durante este período, o terceiro metacarpiano é sujeito a novos e intensos padrões de carga, diferentes daqueles do início do treinamento, onde se exercitam os cavalos apenas a trote e leves galopes. Este aumento de treinamento sobrecarrega o córtex dorsal do osso principal da canela, resultando em inflamação.
De certa maneira, a força e a torção aplicadas sobre os ossos produzem dois estímulos: um no processo de ajustes da arquitetura (mecanismo de adaptação) e outro por meio do comportamento das células das superfícies dos ossos (modelamento e remodelamento), sendo que o processo de remodelamento pode ocorrer nas superfícies externa, interna (canal da medula óssea) e na própria matriz óssea. É de salientar que até os 24 meses de idade a face dorsal do osso terceiro carpiano é mais fina do que a palmar, favorecendo o aparecimento da dor de canelas.
Sinais clínicos
Os sinais são claudicação, diminuição da performance atlética e súbita relutância ao exercício, que melhora com descanso e piora com o trabalho. A claudicação é pior em terrenos duros e varia de leve a moderada entre os animais afetados. Quanto mais o cavalo trota mais ele mostra dor, e sente alívio quando é levado apenas ao passo.
Diagnóstico
Geralmente não são detectados nem calor nem inchaços. Porém, poderá ser visualizada em alguns casos uma leve distensão da cápsula articular do joelho. Existe também a presença de dor á palpação do membro afetado. Radiologicamente, as lesões não são observáveis durante o estágio inicial, sendo apenas diagnosticadas alterações de imagem típicas da dor de canelas, como extensa linha radioluscente orientada longitudinalmente ao osso principal da canela.
Fatores predisponentes
Os fatores que podem contribuir para o surgimento das dores de canela, além das causas já citadas,  são o sobrepeso, nutrição inadequada com carência de cálcio e fósforo, idade precoce para início dos treinamentos, e biodinâmica corporal desequilibrada, ou seja, não só os aprumos como também ferrageamento executado de forma errada.
Tratamento
A claudicação se resolve espontaneamente após 10 a 15 dias de descanso. O período de repouso é em média 60 dias, e após inicia-se o exercício a passo, atingindo a normalidade gradativamente de 3 a 4 semanas. A terapia visa o espessamento rápido do córtex ósseo, para que não ocorram recidivas.


Tipicamente se utilizam antiinflamatórios e termo terapia nos primeiros dias, seguida de revulsivos como blisters para promover a reagudização e espessamento do córtex ósseo.

Prognóstico
Esta afecção atrasa em dois meses o treinamento da maioria dos potros em início de campanha. No entanto, é de fácil resolução e o prognóstico bom para a volta ás corridas. A recidiva ocorre apenas em casos mais graves, onde não houve um diagnóstico preciso, ou o animal ficou submetido ao trabalho contínuo com conseqüente fratura, ou não houve tempo necessário para a recuperação total. Alguns casos necessitam até 110 dias para se recuperarem totalmente. No entanto, os animais tratados nunca mais apresentam os sintomas da afecção.
Prevenção
Dentre alguns métodos preventivos temos a densitometria óssea, capaz de avaliar quando um animal jovem está apto a iniciar seu treinamento para corrida, o radiodiagnóstico, o uso da análise biomecânica e do ferrageamento correto, e o uso de procedimentos de treinamento adaptados ao não surgimento de lesões.

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